Dar é dar.
Fazer amor é lindo,
é sublime,
é encantador,
é esplêndido,
mas dar é bom pra
cacete.
Dar é aquela coisa que
alguém te puxa os cabelos da nuca,
te chama de nomes que
eu não escreveria,
não te vira com
delicadeza,
não sente vergonha de
ritmos animais.
Dar é bom.
Melhor do que dar, só
dar por dar.
Dar sem querer casar,
sem querer apresentar
pra mãe,
sem querer dar o
primeiro abraço no Ano Novo.
Dar porque o cara te
esquenta a coluna vertebral,
te amolece o gingado,
te molha o instinto.
Dar porque a vida de
uma publicitária em começo de carreira é estressante, e dar relaxa.
Dar porque se você não
der para ele hoje, vai dar amanhã, ou depois de amanhã.
Dar sem esperar ouvir
promessas, sem esperar ouvir carinhos, sem esperar ouvir futuro.
Dar é bom, na hora.
Durante um mês.
Para as mais
desavisadas, talvez anos.
Mas dar é dar demais e
ficar vazia.
Dar é não ganhar.
É não ganhar um eu te
amo baixinho perdido no meio do escuro.
É não ganhar uma mão
no ombro quando o caos da cidade parece querer te abduzir.
É não ter alguém pra
querer casar,
para apresentar pra
mãe,
pra dar o primeiro
abraço de Ano Novo e pra falar: "Que cê acha amor?".
Dar é inevitável, dê
mesmo, dê sempre, dê muito.
Mas dê mais ainda,
muito mais do que
qualquer coisa,
uma chance ao amor,
esse sim é o maior tesão.
Esse sim relaxa,
cura o mau humor,
ameniza todas as
crises e faz você flutuar
o suficiente pra nem
perceber as catarradas na rua.
Se você for chata,
suas amigas perdoam.
Se você for brava,
suas amigas perdoam.
Até se você for magra,
as suas amigas perdoam.
Mas... experimente ser
amada."
Luís Fernando
Veríssimo
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